O encantador de clientes
Não são poucos os recursos
disponíveis atualmente para se construir uma boa estratégia de relacionamento
com o cliente. Temos livros, revistas, sites, blogs, artigos, listas de
discussão, cursos, palestras, cases, megaeventos... enfim, um mundo de fontes para
nos ajudar a fazer a liga que une nossos clientes com seus públicos-alvos.
Obviamente, hoje em dia, o mercado também é bem mais exigente do que no início
do século passado. Mas encantar consumidores nas primeiras décadas dos anos
1900 certamente era proporcionalmente mais difícil.
Foi nessa época
que meu avô, o pernambucano Aristóteles Paes de Azevedo, começou a desenhar uma
história inspiradora. Caixeiro viajante, viu numa grande novidade da época – o
cinema – uma ótima oportunidade para demonstrar sua mercadoria. Ora, o cinema
era um grande evento social, comparável apenas, talvez, às missas dominicais e
festas tradicionais como aniversários de 15 anos e casamentos. Sobretudo em
Pernambuco. Sobretudo no interior de Pernambuco.
Reunião de muitas
pessoas em momento de lazer, com tempo livre e felizes. Meu avô, cujo faro
comercial nasceu com ele, enxergou o terreno fértil. Mas não exatamente para
vender. Ele foi genialmente astuto e viu que o ambiente festivo estava muito
mais para o encanto do que para o negócio. Por isso, em vez de encarnar um
feirante, anunciando exaustivamente aos berros seus cortes de tecido, o meu
multitalentoso ídolo empunhava um violão, tocava e cantava. As pessoas se
aproximavam, viam as mercadorias. Ali era feita uma rodada de negócios lúdica,
onde os primeiros contatos eram construídos e as vendas fechadas nos dias
seguintes. Para encurtar a história, o sagaz caixeiro virou um dos maiores
comerciantes de Pernambuco do ramo de tecidos, com filiais espalhadas por
diversas cidades do Nordeste. Infelizmente seu império não vingou após sua
morte, em 1973 - aos 74 anos e dois anos antes de eu nascer -, mas ficou o
exemplo de empreendedorismo e habilidade nata em marketing. Qualidades que
atravessaram gerações e me marcaram todas as vezes que eu as ouvia.
Além de
inspiradora para qualquer pessoa das áreas de vendas, marketing e comunicação,
a história do meu avô levanta uma reflexão muito produtiva: o que encanta meus
clientes? E os consumidores dos meus clientes? E quando falo encantar, não
incluo apenas grandes e caras ações de marketing, sempre bem vindas quando
viáveis. Falo também dos detalhes, da maneira como se fala ao telefone, como se
redige um e-mail, como se conserta um erro, como se comemora uma pequena ou
grande vitória.
Tudo isso faz
parte dos nossos relacionamentos e impacta no modo como as pessoas nos aceitam
e, consequentemente, aceitam nossos produtos e serviços. Precisamos entender
que esse amálgama de gestos, conhecimento técnico, jogo de cintura,
investimento e resultados formado pelos relacionamentos são necessários desde
as nossas relações dentro da nossa própria empresa até a dos clientes com seus
colaboradores, consumidores, parceiros e fornecedores. É a textura que
possibilita ao cliente, depois de deglutir o pedaço do bolo do nosso serviço,
soltar um delicioso “hummm”. Obrigada, vovô, seja lá onde estiver.
Foto: Aristóteles Paes de Azevedo, empreendedor pernambucano
Foto: Aristóteles Paes de Azevedo, empreendedor pernambucano
Adriana
Maia- jornalista, assessora de imprensa, professora e diretora da empresa Nova
Aurora Comunicação.
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